Mapa de risco em 29 de Março |
O mapa de risco é um plano com dois eixos, no eixo horizontal, o tal Rt, e no eixo vertical a incidência acumulada nas duas últimas semanas, por cem mil habitantes, outro número que a comunicação social, e não só, ainda não percebeu muito bem. Segundo os "especialistas", estamos mais ou menos bem se o indicador de incidência estiver abaixo de 120 e o valor de Rt abaixo de 1.
O indicador de incidência tem tido uma evolução acidentada. Andou muitos meses abaixo de 120, começou a crescer acentuadamente por volta de Outubro, decresceu um pouco em Dezembro, mas voltou a crescer e atingiu um terceiro pico violentíssimo em Fevereiro de 2021.
Indicador nacional de incidências |
É um indicador com memória de duas semanas, esquecendo completamente os casos verificados há mais de duas:
i(d) = [t(d) - t(d-14)]/pop
em que i(d) é o indicador no dia d, t(d) é o total de casos no dia d e pop a população em centenas de milhar de habitantes. Hoje, por exemplo,
t(hoje) = 822314
t(hoje-14) = 816055
pop = 103 (10.3 milhões de portugueses)
i(hoje) = 60.8.
Se decrescer, estamos a ficar melhor que há duas semanas, se crescer, estamos a ficar pior!
Se decrescer, o vírus está a perder terreno, se crescer, o vírus está a ganhar terreno.
Na mecânica, usam-se as variáveis (posição, velocidade) ou (posição, quantidade de movimento) para se caracterizar a fase de um sistema dinâmico.
Numa população de milhões de pessoas diferentes, uns já infectados e eventualmente imunizados, outros eventualmente infectados e assintomáticos, uns para quem o vírus é uma "gripezinha", outros para quem a infecção significa internamento em UCI e perda da vida, alguns já vacinados, a maioria sem qualquer contacto com o vírus, usa-se o índice Rt para indicar se o vírus está a ganhar ou a perder terreno.
O que se sabe é que a infecção se adquire por transmissão entre indivíduos infectados e não infectados, que os sintomas, se ocorrerem, ocorrem entre 3 a 10 dias após o contágio, que a probabilidade de um individuo infectado transmitir o vírus a um não infectado depende de os dois indivíduos terem estado próximos um do outro durante tempo suficiente, da estirpe do vírus, e factores ambientais, etc.
O que se sabe é que, por exemplo, os 592 infectados de hoje estiveram em contacto com outros infectados ainda não detectados na altura do contacto, pois de outro modo estariam já isolados.
O Rt dá-nos essa indicação de uma forma global, através de uma estimativa de quantos contágios um conjunto de indivíduos infectados pode produzir.
Quanto mais se souber sobre o funcionamento do vírus e sobre como se processa o contágio, quanto mais completos e rigorosos forem os dados disponíveis, mais rigorosa será a estimativa.
Deixo aqui o resultado de um trabalho de Fernando Batista que compara os valores de Rt obtidos por diversos métodos, entre os quais uma aproximação que eu costumo utilizar.
Estimativas de Rt |
O "meu" método consiste em pensar que uma estimativa dos casos no dia d será a média de casos nos últimos 7 dias, e admitir que em média a infecção ocorre 5 dias após o contágio, o que conduz a pensar que
mm7(d) = Rt.mm7(d-5)
ou seja, que uma aproximação para Rt será
Rt = mm7(d)/mm7(d-5).
O problema é que o cálculo do Rt se faz com 5 dias de atraso, e, se somarmos os dias que o governo espera para tomar decisões, podemos ter nova catástrofe...
Assunto a revisitar.